domingo, 4 de setembro de 2011

No meio do caminho tinha o Wellington

Outro dia me aconteceu algo inédito a bordo do táxi. No caminho para o aeroporto, eu estava calada, pensando na vida e tentando acordar (eram 7 horas da manhã) e, do nada, o taxista fechou os vidros e aumentou o volume do rádio. Cantarolando a música que estava tocando, ele comentou com entusiasmo: “nossa, esta música é bonita demais!!”

Além um susto danado – geralmente, os taxistas são contidos em sinal de respeito ao passageiro! – esta ida (ou vinda), rendeu mais uma entrevista para o blog.  Apresento a vocês Wellington, um taxista conservador.
PERFIL
- 59 primaveras completas;
- Natural de Belo Horizonte – MG;
- Pai de 3 filhos.
PERGUNTAS E RESPOSTAS (texto produzido a partir da entrevista, dos buracos da minha memória e da minha interpretação livre)
M – Então você gosta muito de música, Wellington?
W – Nossa, gosto demais... Mas estas de hoje dia não tão com nada... é tudo porcaria!
Música boa é igual esta aqui [tocava aquela música q não sei o nome, mas é definitivamente muito popular . “Olha a lua branca no céu, amor / Olha nananananananana, amor / nanananannana / Me leva amor... / Por onde for, quero ser seu par...”
Não entendo como este povo consegue ficar escutando este “tuntuntun” por muito tempo... é só para quem tem a cabeça oca mesmo porque aí, o barulho ressoa!

M – E quais as rádios você costuma escutar?
W – Ah, as minhas preferidas são a 96,5 FM, a 100.9 FM, que só tem música brasileira, e a 94,9 FM
[neste momento, começa outra música – Águas de Março, com aElis Regina cantando]
Esta aí, oh... isso sim que era cantora. Isso sim! Quem viu, viu... quem não viu, não vai ver ninguém nem parecido mais! Pena que ela era muito doida, né?

M – É verdade... E você sempre escuta música no carro? Os passageiros também gostam?
W – Eu escuto mais quando estou indo para Confins, porque é mais tranquilo e não tem tanto trânsito e barulho da cidade. Mas isso é quando o cliente não pede para desligar, né? Tem muita gente que não gosta. Aí, tem que respeitar, fazer o que... você não importa não, né?
M – Não, tá tranquilo.
W – Lá em casa, eu gosto muito de escutar música clássica, ainda mais quando estou fazendo almoço – eu sou separado, sabe?. A comida fica até mais ... [movimento com a mão direita, na tentativa de encontrar a palavra perfeita] mais... saborosa!

M – É mesmo? Quem você costuma escutar [confesso que neste momento, ele estava blefando, mas pela resposta, entendi que ele sabia do que estava falando]
W – Ah, Mozart, Schubert, Strauss.
Depois desses caras aí, quem é que fez música bonita deste jeito?? Não tem... O povo gosta da modernidade mesmo, não tem jeito.

M – Tem muita porcaria, mas tem muito coisa nova boa por aí...
W – É, tem... mas olha para você ver [não tem como ser mais mineiro!] o Vinícius de Moraes, por exemplo. Ele era um artista maravilhoso, completo. Não tem o quefalar sobre ele... Quando ele morreu, eu chorei tanto que parecia que ele era meu amigo mesmo, meu parente! Ele escrevia muito bem sobre o amor... Umas letras lindas, todas escritas em mesa de bar... vai fazer isso com seus amigos aí no final de semana para ver se sai alguma coisa parecida... [risos] Não sai não! As palavras do Vinícius eram igual carta no baralho, que se encaixam direitinho...

[fiz uma pausa nas perguntas para dar conta de anotar tudo que ele estava falando, e isso fez com que ele começasse a me entrevistar! Me perguntou sobre onde eu morava, para onde eu ia; estranhou o fato de eu, nova, estar viajando sozinha; perguntou sobre a pessoa com que eu estava no momento em que ele me buscou, etc. Achei melhor retomar a conversa tendo ele como ponto central).

M – Você falou que é separado, né? Não teve filhos? [até hoje, não encontrei nenhum taxista que tivesse filhos na faixa ou mais velhos que 20 anos, que não tivessem cursado Ensino Superior]
W – Sim, tenho 3. O meu mais novo também gosta muito de música. Ele toca Trompete de vara.

M – É mesmo? Esta é a profissão dele?
W – Não. Na verdade, meu filho estudou Educação Física... ele é muito inteligente, sabe? Agora, ele é professor de dança de salão. É o que ele gosta de fazer. Eu não sou muito a favor não... queria que ele arrumasse uma coisas que desse mais dinheiro, né?

M – Mas se ele for bom mesmo, consegue fazer uma graninha boa...
W – É, mas pai e mãe quer é que o filho tenha uma profissão mais comum. Assim... mais reconhecida... Também não gosto muito dele neste meio artístico. Tem muita coisa errada por aí.

M – Ah, mas isso tem em todo lugar...
W – É, mas acho que no meio artístico é pior... é sujo, tem muita droga. Você sabe: o que você faz para a Velhice, começa quando se é novo...
E assim, chegamos a Confins.

Obrigada, Wellington pela carona e pela conversa.
(anotações feitas em março de 2011)

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Saldo rápido de uma viagem rapidinha

O aeroporto vem sendo, cada vez mais, frequentado de forma corriqueira pelas pessoas. Foi em uma destas Idaevindas que me deparei com as seguintes cenas/situações:


- uma mulher com rolinhos na cabeça;
- três pessoas conhecidas na mesma sala de embarque;
- uma tesourinha do kit costura perdida – entregue a turminha do raio x;
- vários fãs do U2 rumo ao show em plena quarta feira;
- um pequeno engano da mocinha ao microfone: “A Trip Linhas Aéras tem o prazer de apresentar o vôo ..."  (talvez ela vá muito ao teatro ... sei lá...).